Paradoxo Jovem #6: Abuso Sexual: o Testemunho de uma sobrevivente

 
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      Olá caríssimos e caríssimas companheiros de Parábolas, esperamos que todos estejam bem e que esta sexta-feira seja a melhor sexta que você já viveu até hoje! 

      O texto da coluna Paradoxo Jovem de hoje é fruto de um testemunho que recebi no ano de 2014 a respeito de um assunto para o qual preferimos não olhar ou fazer de conta que não existe. Confesso que é muito mais cômodo termos a falsa sensação de que o Abuso Sexual de crianças e adolescentes está muito distante de nossa realidade cristã, mas esta infelizmente não é a realidade.

     Estou muito contente por poder compartilhar com vocês esta história. Alguém que passou por uma experiência terrível em sua infância, mas que com a ajuda de Deus e de sua paixão por Cristo, venceu o trauma do abuso sexual e hoje tem uma família abençoada e uma vida transformada por Ele. Decidimos publicar seu texto, pois sabemos que, infelizmente muitas crianças, adolescentes, jovens e adultos sofrem ou sofreram deste mal abominável em algum momento de suas vidas. O testemunho desta irmã, que teve seu nome alterado para preservar sua identidade, pode gerar vida e esperança no coração de pessoas que estejam passando por isto. Não tenho palavras para agradecer a ela pela coragem de relembrar estes eventos para compartilhar com vocês sua história. Que estas palavras gerem vida e esperança no coração de pessoas aprisionadas, pois se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres! Leia e compartilhe este texto e tente não se emocionar com o relato sincero de uma Alma Sobrevivente.
Abaixo, o testemunho de Alma (nome fictício) na íntegra. Deu os abençoe, Pastor Eduardo Medeiros

     A Paz do Senhor à todos. Esta é a segunda vez que falo a respeito deste assunto. A primeira foi para o grupo de jovens e adolescentes da minha igreja (do qual minha filha faz parte). Para algumas pessoas pode parecer estranho eu falar sobre este assunto, ainda que uma ou duas vezes (muitas vítimas não falam nunca), para outras pode ser  estranho eu ter falado tão pouco. Onde estão os psicólogos e terapeutas na minha vida? Não estão, nunca me beneficiei de seu trabalho para me ajudar. Meu auxílio sempre foi única e exclusivamente Deus, meu Senhor Jesus!  De quê estou falando? De violência, de abuso. Ser molestada por anos ou violentada e ponto. Seja como for, a dor, as marcas, a angustia geradas são as mesmas. As perguntas que insistem sempre em voltar a nos atormentar são as mesmas. Por que eu? Por que comigo? O que eu fiz pra merecer uma dor assim? Não entendo, não entendo.
     Aos 11 anos a pureza, a inocência, a certeza de segurança que a infância nos trás me foi tirada, arrancada. Não apanhei, não tive ossos quebrados nem marcas visíveis aos olhos de ninguém, não fui morta, tanto que ninguém, ninguém mesmo soube do ocorrido, somente eu e meu carrasco. Foi terrível. Sim, eu escondi do mundo a minha dor, como a maioria das vítimas fazem. O medo! O medo é a trava que nos impede de gritar. Medo porque o carrasco está por perto, ameaçando vítima e família (a dor já é tão grande, melhor ficar quietinha,calada), medo do julgamento, da rejeição. MEDO. Medo de que professando a realidade, ela se torne ainda mais dolorosa. Eu tive medo, muito medo de perder minha mãe, que apesar de ser muito jovem na época, estava doente e talvez não suportasse saber disso (doía tanto em mim, como seria com ela que era minha mãe, minha cuidadora, a pessoa que mais me amava no mundo? A dor seria redobrada), não, ela não suportaria e ai sim, eu morreria. E meu pai? O que faria? Sairia matando todo mundo em seu desespero? E a família, o que diriam? Eu imaginava o que diriam:
      - Olha ai, vocês que sempre cercaram essa menina de mimos não cuidaram direito dela. 
     Me olhariam e me tratariam pior do que já me tratavam. Minha vida não estava perfeita, minha família passava por problemas e ficaria ainda pior se alguém soubesse. Tinha medo, vergonha, medo, crises de identidade, medo, dúvidas, medo e revolta, medo, medo. 
     Passei a ter pesadelos terríveis e por causa deles, insônia, só me sentia segura em poucos momentos e poucos lugares. Quando dormia com minha mãe, quando passeávamos em família, principalmente quando estava com meus amigos, trabalhando com o grupo de adolescentes e depois os jovens na minha igreja. Sim, eu servia ao Senhor e nunca deixei de amar e de adorá-Lo. Mas mesmo assim eu vivia em um mundo paralelo, de fantasias dentro de mim, era meu esconderijo quando estava sozinha, uma forma de esquecer a dor. Mesmo com Ele eu evitava de falar sobre essa dor. Eu tinha medo de começar a falar e a dor, a revolta explodissem como um vulcão em erupção. Tinha medo de nesta explosão, ofender a Deus e assim afastá-lo de mim. Nesta época ainda era uma criança, tinha uma visão limitada do amor do Pai por mim, não sabia que poderia falar, gritar tudo o que estava dentro de mim e Ele me entenderia e me ajudaria a entender, me acolheria mais uma vez e me perdoaria pelo desabafo porque sempre o respeitei e amei. Eu sei que foi este amor mútuo, recíproco que me manteve.
      As dores de quem passa por um estupro são muitas, imensas e mexem com nossa personalidade, nossas certezas e vontades. Nos causam tantas dúvidas, nos alimentam de tristeza, criam desânimo. Conheço pessoas que foram vítimas dessa violência que vivem com suas variadas marcas, homossexualismo, prostituição, depressão, agressividade, relacionamentos frustrados, baixo autoestima, inseguranças. Em mim com certeza, a insegurança. 
     Por consequência, vários empregos perdidos (eu tremia e travava por tudo e qualquer coisa), perdi um grande e delicado amor e depois, por anos, fui aprisionada em um relacionamento obsessivo e doentio, mas que eu, por causa da minha carência, acreditava ser amor. Acreditava ser normal viver dominada por outra pessoa, oprimida, subjugada. Fui liberta dessa prisão quando Jesus, ouvindo minhas súplicas me respondeu com amor e me fez sentir que eu era mais que uma garota violentada, que eu era especial aos olhos de Deus e por isso não tinha que me submeter às vontades de outro, indo contra as minhas vontades e sonhos, que eu não deveria querer menos do que realmente merecia. Eu era sim muito amada. 
     Aos poucos o Senhor foi firmando em meu coração a certeza de que seria feliz e completa. Ele colocou em minha vida um jovem lindo, gentil, carinhoso, compreensivo, bem humorado e apaixonado por mim. Com ele aprendi que o sexo depois do casamento, é algo criado por Deus e que é muito bom quando feito com amor e por amor, sem enganos. Deus ainda me presenteou com um casal de filhos, lindos, perfeitos, abençoados e abençoadores. Comecei a me sentir completa, contrariando minhas certezas de infelicidade. 
     Durante anos fui tratada, única e exclusivamente pelo Espírito Santo de Deus. Mesmo quando não tinha forças para orar, quando só o nome de Jesus era o que eu conseguia exprimir, fui ouvida e cuidada. Nesse nome há todo o poder. Muitas vezes, quando as lembranças e medos vinham atormentar meu coração, era Nele, meu Cristo Jesus que vinha ao meu encontro, me fazendo lembrar das suas misericórdias. Entendi que apesar do que aconteceu comigo, nunca estive sozinha. O Senhor não permitiu que me tirassem a vida, como acontece com tantas vítimas de estupro, sobrevivi, tive forças pra buscar minha redenção e a encontrei em Jesus através da família que ele me deu. Não me corrompi, vivi, estudei, cresci, realizei coisas e tenho prazer em louvá-lo por isso.
       Hoje eu vejo que com Deus, mesmo as maldições podem se transformar em bênçãos. Eu vivo isso. Eu que acreditava que jamais seria feliz. Não esqueci, mas não dói mais como doía. Ainda não entendo porque aconteceu, mas isso não importa mais. Hoje, devido a esta experiência que vivi consigo identificar com certa frequência onde há abusos, reconheço vítimas. Trabalho com crianças e adolescentes e sei que tenho contribuído para ajudar. Sou uma mulher comum? Sou sim, mas também sou muito especial pois sou amada pelo Pai e este amor me cerca diariamente. 
     Tive a chance de saber dessa verdade e a guardei em mim. Nele há oportunidade de cura. Quando as cicatrizes querem incomodar, o seu Santo Espírito nos traz à memória só o que no dá esperança. Ele nos ajuda a concretizar sonhos, sonhos que se tornam uma realidade maior que qualquer dor. Ele torna sua dor em material de apoio à pessoas que ainda estão fragilizadas. “Creia, há vida saudável e completa depois da violência vivida.” Como já disse anteriormente: “Deus transforma toda e qualquer desgraça, maldição em bênção, em propósito.” Ele tem poder para transformar o velho em novo!
Deus abençoe à todos. 
Alma.

Referências Bíblicas

Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! 2 Coríntios 5:17

Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo. Romanos 5:13

Aquele que estava assentado no trono disse: "Estou fazendo novas todas as coisas! " E acrescentou: "Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e dignas de confiança". Apocalipse 21:5

Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, Filipenses 3:13 
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